sábado, 12 de maio de 2012

Da escola para a delegacia

Durante muito tempo, o diretor de escola era a autoridade que assustava os maus alunos. “Se você fizer isto, vai para a diretoria!”. De certa forma, essa cena ainda existe, porém, em muitos casos, agora a realidade é mais dura: muitos dos alunos da rede estadual de ensino, e mesmo das escolas particulares, não temem mais professores ou diretores. Uma explicação parcial para essa mudança de comportamento é que os alunos ignoram a autoridade do professor porque, muitas vezes, não têm estrutura familiar, muitos pais trabalham e, em alguns casos, vivenciam violência dentro de suas casas.

Tudo muda, e, pelo jeito, a situação mudou para pior para os educadores. Isto tem várias explicações: o sistema de aprovação automático; a violência que brota da televisão e dos jogos eletrônicos; o aumento da miséria; e, por fim, a falta daquele professor que dava aula mais por amor à profissão do que pelo salário recebido do Estado.

Ocorrências de alunos com armas ou drogas dentro da sala de aula passaram a ser fatos repetitivos que deixaram a esfera da diretoria e foram levados à autoridade policial. Isso sem falar nas brigas entre alunos, dentro e fora da escola, ocorrência que tem tido uma demanda crescente nos últimos anos. E o próprio fato mostra que muitos alunos desconsideram os educadores como autoridades e os desrespeitam. Sabe-se que muitos diretores ou professores preferem fazer de conta que nada viram, do que optar por denunciar os fatos à polícia.

Uma das queixas mais comuns dos professores e diretores diz respeito ao sentimento de impotência diante de alunos indisciplinados. O que falta agora em grande parte das escolas estaduais é investimento em infraestrutura, como instalação de câmeras no interior das escolas, guardas nos portões para oferecer segurança na entrada e na saída de alunos, aumento dos muros e intensificação da ronda escolar realizada pela Brigada Militar.

Culpa desta situação também cabe às palavras contidas no Estatuto da Criança e do Adolescente, extremamente dócil e tolerante para com o menor infrator. Essa alta tolerância contida na lei castrou as autoridades escolares e da Justiça de tal modo que, cientes das brandas penas, os menores passam a abusar da fé na impunidade.

E aqui cabe o relato de um professor aposentado experiente que não tem vergonha de relatar a verdade: “Ele me segurou pelo colarinho no corredor e perguntou: ‘Que nota você me deu?’. O sangue subiu e eu tive que pensar rápido: ou dava um soco nele e ia preso porque era menor, ou levava para a diretoria e poderia apanhar ou morrer na saída”.


RENATO DUTRA PEREIRA |1º sargento dos bombeiros