sexta-feira, 29 de julho de 2011

MOSTRA PEDAGÓGICA-Turma 34




ALUNOS BONZINHOS por Içami Tiba

Houve um tempo, há algumas décadas, que o comportamento do aluno era tão avaliado quanto o seu aprendizado. Se um aluno estivesse quieto, calado, não se mexesse muito, não perturbasse em nada a aula, nem sequer perguntasse uma dúvida que tivesse, pronto: nota máxima em comportamento.  Por esta nota os pais, que tinham que assinar o boletim, sabiam se o seu filho fez bagunça ou não na sala de aula.
e um aluno estivesse quieto, calado, não se mexesse muito, não perturbasse em nada a aula, nem sequer perguntasse uma dúvida que tivesse, pronto: nota máxima em comportamento.  Por esta nota os pais, que tinham que assinar o boletim, sabiam se o seu filho fez bagunça ou não na sala de aula.
Assim, quem estivesse tímido, com graves problemas psicológicos como isolamento, mutismo, séria dificuldade de relacionamento, considerável baixa na auto-estima a ponto de julgar-se incompetente para participar da aula etc. poderia receber uma boa nota de comportamento.
Era a época em que reinava o ensino autoritário, quando as regras escolares estavam acima de qualquer aluno, o dever estava muito distante do prazer, do lúdico, da alegria de viver. É deste período que os professores cometiam atos hoje considerados abusos de poder e até mesmo de bullying, como taxar o aluno de burro, fazer o aluno “ajoelhar no milho” etc.
Felizmente estas avaliações de comportamento acabaram, o ensino humanizou e o aluno adquiriu seus direitos de manifestação.
Como toda água que se represa, quando se solta inunda descontroladamente tudo por onde passa, e não irriga somente o que precisa; o comportamento dos alunos também “detonou” com tudo o que encontrou pela frente como liberdade de expressão, limites, regras e educação.
Os alunos ficaram como que viciados pela agitação e vontades próprias. Quando não fazem o que querem e não se agitam, começam a sofrer um tipo de abstinência ficando irritados, aborrecidos, desrespeitosos, agressivos, tumultuadores etc.
Hoje até parece que os alunos que desejam aprender estão na contra mão da maioria, assim como comportar-se em aula sem incomodar outras pessoas e até mesmo praticar a educação mais adequada e saudável .
O que seria esperado de um aluno para ser considerado adequado é a educação relacional, com as palavras mágicas: com licença, desculpe, por favor, obrigado.
Uma sala de aula seria muito melhor se os alunos fossem mais educados - principalmente na civilidade.  Ninguém no mundo gostaria de conviver com pessoas mal educadas, muito menos professores que precisam despertar nos alunos uma vontade de estudar, quando eles só gostariam de fazer o que quisessem, avessos às obrigações e responsabilidades que são.
Mas esses mesmos alunos mal educados tornam-se altamente estimulados e cheios de vontades de aprender quando os assuntos lhes interessam, surpreendendo até quem deles nada espera.
Portanto o segredo para se conseguir o interesse dos alunos e assim um “aluno bonzinho” é o professor: primeiro ouvir quais os interesses mais comuns que eles manifestam e, segundo: incluir a sua matéria neles ou o inverso, ilustrar ou embasar as aulas com os interesses deles. Sabendo que a paciência deles é cada vez mais facilmente esgotável, o professor deve alimentá-la fornecendo feedbacks a cada intervenção que o aluno fizer. Assim as manifestações dos alunos deixam de ser intrusivas e passam a pertencer ao relacionamento professor-aluno. 
Exigir dos pais que os alunos já cheguem educados à Escola é bem pior e mais difícil de obter resultados positivos do que transformá-los em parceiros da educação dos filhos deles.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Artigo Diário de Santa Maria

 

Educar, denunciar e anunciar, por Valdo Barcelos*

Dias atrás, em um evento sobre educação, encontrei um ex-professor de quem fui aluno no doutorado no ano de 1998. Eu estava em uma mesa onde o referido professor era homenageado por sua segunda aposentadoria do trabalho docente. O homenageado começou contando, nas suas palavras de agradecimento, que estava ?cansado de tanto ouvir seus colegas professores(as) denunciar. Se sentiria, mesmo, homenageado, quando ouvisse seus colegas começassem a anunciar?.

Ele seguiu seu agradecimento mais ou menos nos seguintes termos: quero ver os colegas professores anunciarem que vão procurar ser mais criativos em suas práticas pedagógicas em sala de aula; que vão se preocupar mais ? e sinceramente ? com as avaliações que fazem e com os resultados que delas obtém; que vão deixar de ser professores quando perceberem que não gostam de ministrar aulas; que vão se abrir sinceramente ao diálogo e não apenas declarar que estão em luta permanente com os governos, sejam eles quais forem e em que época estejam; que vão continuar estudando, mesmo depois de concluírem suas respectivas licenciaturas universitárias ? me refiro aqui aqueles que se preocuparam realmente com sua formação profissional quando cursavam a universidade; que vão culpar menos os pais, os alunos e a ?sociedade? pelo fracasso de seus alunos; que vão continuar reivindicando melhores e mais justos salários, mas sabendo que apenas isto não garante que serão melhores profissionais e que a educação melhorará; que vão aderir e se empenhar em sua formação continuada quando esta lhes for oferecida; que serão professores porque querem sê-lo; que amarão seus alunos, seu local de trabalho, e que sentirão prazer com aquilo que fazem.

A lista de anúncios que o professor homenageado fez foi bem mais longa e não vou reproduzi-la toda neste espaço. Após o encerramento daquela sessão, saímos do evento e fomos jantar com o antigo mestre. Fui assaltado por uma sensação ao mesmo tempo incômoda e gostosa. Uma sensação semelhante aquela que qualquer pessoa sente ao final de uma boa aula recebida. Não de uma aula de conteúdos apenas, mas, fundamentalmente, de uma aula de vida. Uma vida de mestre, de educador, uma vida de professor, no sentido mais humano e generoso que essa palavra ? professor ? pode carregar.

Assim, colegas, vamos começar a anunciar alguma coisa? Pode ser bem pequena. Mas estamos todos cansados de tanta denúncia.
*Professor da UFSM e escritor



DEFICIÊNCIAS por Mario Quintana




DEFICIÊNCIAS, Mario Quintana (escritor gaúcho nascido em 30/07/1906 e morto em 05/05/1994 .

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:

"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.

"A amizade é um amor que nunca morre."

quarta-feira, 6 de julho de 2011

COMO SE FORMA UM BOM ALUNO(trecho Revista Época)

Não há pai ou mãe que não sonhe com isso: que seu filho vá bem na escola, encontre uma vocação e faça sucesso. É por isso que os pais brasileiros, ouvidos em uma pesquisa do Movimento Todos pela Educação, disseram participar com afinco da vida escolar de seus filhos. Essa participação, porém, tem suas falhas – como mostra um detalhamento da pesquisa de 2009, feito com exclusividade para ÉPOCA. Em alguns casos, há falta de tempo (a queixa mais comum de quem tem filho em escola particular). Em outros, o principal obstáculo é o desconhecimento do conteúdo ensinado (para quem tem filho em escola pública).
A pesquisa também detectou conceitos ultrapassados de como impulsionar o conhecimento. A maioria dos pais presta demasiada atenção às notas e preocupa-se menos em estimular a leitura ou acompanhar se a criança está aprendendo.
Em outras palavras: há mais cobrança que incentivo. É como se os pais considerassem que sua tarefa principal é garantir o acesso à escola – a partir daí, a responsabilidade seria dos professores. Isso é pouco, principalmente num país que não tem avançado satisfatoriamente na área da educação. O nível de ensino das escolas brasileiras, mesmo as de elite, é baixo, na comparação com os países mais avançados. Um relatório do Ministério da Educação, ainda incompleto, mostra que atingimos apenas um terço das metas do Plano Nacional de Educação, entre 2001 e 2008. A evasão escolar no ensino médio aumentou de 5% para 13%. Só 14% dos jovens estão na universidade. Menos de um quinto das crianças até 3 anos frequenta creches.
E, no entanto, há ilhas de excelência. Há alunos brilhantes, curiosos, esforçados, interessados, capazes. Não estamos falando de superdotados. São meninos e meninas comuns, de colégios públicos e particulares, pobres ou ricos, que vão para a escola e... aprendem. Mais: formam-se. Estão no caminho de se tornar cidadãos melhores, pessoas melhores, gente de sucesso. Fazer com que uma criança seja assim não está inteiramente ao alcance dos pais. Pesquisas mundiais mostram que o envolvimento paterno responde por, no máximo, 20% da nota final. O restante seria determinado pela qualidade da escola, a relação com os professores, a influência dos colegas e, claro, seu próprio talento. Mas há, em cada um desses fatores, também uma influência dos pais. Cabe a eles analisar a escola, monitorar os professores, perceber o ambiente em que seu filho vive, estimular-lhe os talentos naturais. Talvez não seja possível fabricar bons alunos. Mas, como atestam as experiências dos garotos e das garotas desta reportagem, há boas receitas para ajudá-los a descobrir esse caminho.

domingo, 3 de julho de 2011

ARTIGO DO DIÁRIO DE SANTA MARIA

Bullying intelectual
A violência na escola ultrapassou os problemas das salas de aula, da direção, e alçou voos extrapolando os muros do estabelecimento educacional, já não sendo vista como brincadeira isolada de criança, mas, sim, um dilema social. O vitimizador é um não ser, mas ainda não se deu conta de que é ele um problema, não consegue ser por si só e se satisfaz em causar dor e angústia a outrem que ele não consegue ser. Salvo melhor juízo, todo vitimizador é vítima de excesso: por falta de afeto ou de limite, é alguém que também sofre violência, quer em casa, na rua, ou porque não possui amor próprio. Pode ser, também, que esteja cercado pela crueldade e a pratique pelo fato de sua vida não ter outro sentido.

Há outra maneira de bullying não menos relevante: o intelectual, quer seja, o dano praticado por alguns alunos em aula, que prejudica a compreensão dos conteúdos em decorrência de conversas paralelas e da falta de respeito. Gritar com os alunos não é a saída, pois o grito é a expressão da loucura. Retirar da sala, sem que ocorra a conscientização do ato praticado, também não resolve. Chamar os pais muitas vezes é tarefa árdua, uma vez que muitos veem seus filhos como inocentes incapazes de realizar algo errado. Alguns pais nem comparecem na escola quando convocados.

Em muitos estabelecimentos educacionais, os docentes perdem parte significativa da aula tentando fazer com que seus alunos parem com as brincadeiras de mau gosto. Muitos saem com dor de cabeça, frustrados pelo tempo que deixaram de aprender. Alguns perdem o desejo de ir às aulas, são agredidos verbalmente ou ameaçados por serem “nerd” (pessoas que estudam e participam), ou pelo menos tentam. Outros são humilhados porque possuem alguma dificuldade na compreensão. Os professores saem depressivos e alguns abandonam a profissão, e a sociedade reclama pela falta deles, mas pouco ou nada é feito para proporcionar um ambiente sadio para todos.

Deve-se tentar resolver a situação na escola, com os pais e, quando essa restar inexitosa, chamar o Conselho Tutelar. Acredita-se que os alunos que se sentirem lesados pelos distúrbios no aprendizado poderão ingressar com ação indenizatória por dano intelectual, a qual é uma inovação, quem sabe, com a obrigação de ressarcir financeiramente o dano. Em qualquer lugar deve haver respeito. Por que o descaso na escola? Ela é um local de prazer, saber e de trabalho que está sendo desrespeitado e desvalorizado. Tais atitudes causam dano de monta não só aos que deixam de aprender, mas à própria sociedade, que perde a possibilidade de ter cidadãos mais críticos e capazes de serem líderes de si mesmos.

Advogada e professora da Ulbra
SILVIA LOPES DA LUZ