quinta-feira, 14 de julho de 2011

Artigo Diário de Santa Maria

 

Educar, denunciar e anunciar, por Valdo Barcelos*

Dias atrás, em um evento sobre educação, encontrei um ex-professor de quem fui aluno no doutorado no ano de 1998. Eu estava em uma mesa onde o referido professor era homenageado por sua segunda aposentadoria do trabalho docente. O homenageado começou contando, nas suas palavras de agradecimento, que estava ?cansado de tanto ouvir seus colegas professores(as) denunciar. Se sentiria, mesmo, homenageado, quando ouvisse seus colegas começassem a anunciar?.

Ele seguiu seu agradecimento mais ou menos nos seguintes termos: quero ver os colegas professores anunciarem que vão procurar ser mais criativos em suas práticas pedagógicas em sala de aula; que vão se preocupar mais ? e sinceramente ? com as avaliações que fazem e com os resultados que delas obtém; que vão deixar de ser professores quando perceberem que não gostam de ministrar aulas; que vão se abrir sinceramente ao diálogo e não apenas declarar que estão em luta permanente com os governos, sejam eles quais forem e em que época estejam; que vão continuar estudando, mesmo depois de concluírem suas respectivas licenciaturas universitárias ? me refiro aqui aqueles que se preocuparam realmente com sua formação profissional quando cursavam a universidade; que vão culpar menos os pais, os alunos e a ?sociedade? pelo fracasso de seus alunos; que vão continuar reivindicando melhores e mais justos salários, mas sabendo que apenas isto não garante que serão melhores profissionais e que a educação melhorará; que vão aderir e se empenhar em sua formação continuada quando esta lhes for oferecida; que serão professores porque querem sê-lo; que amarão seus alunos, seu local de trabalho, e que sentirão prazer com aquilo que fazem.

A lista de anúncios que o professor homenageado fez foi bem mais longa e não vou reproduzi-la toda neste espaço. Após o encerramento daquela sessão, saímos do evento e fomos jantar com o antigo mestre. Fui assaltado por uma sensação ao mesmo tempo incômoda e gostosa. Uma sensação semelhante aquela que qualquer pessoa sente ao final de uma boa aula recebida. Não de uma aula de conteúdos apenas, mas, fundamentalmente, de uma aula de vida. Uma vida de mestre, de educador, uma vida de professor, no sentido mais humano e generoso que essa palavra ? professor ? pode carregar.

Assim, colegas, vamos começar a anunciar alguma coisa? Pode ser bem pequena. Mas estamos todos cansados de tanta denúncia.
*Professor da UFSM e escritor



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